O tempo fechou na virada de segunda para terça na aliança entre PT e PMDB, após a omissão de Dilma Rousseff na defesa do principal aliado e de seu vice, Michel Temer, durante entrevista ao Jornal Nacional, da TV Globo. Confrontada com declarações de Ciro Gomes - que chamou o PMDB de “ajuntamento de assaltantes”, e Temer de “chefe da turma” - Dilma encerrou sua resposta sem rechaçar as afirmações de Ciro, o que provocou a pior crise na aliança até aqui.
As reclamações de pemedebistas e a pressão sobre Michel Temer foram tais, que o candidato a vice tomou um avião de madrugada do Rio de Janeiro para Brasília. Até as três e quinze da manhã, Temer tentou contornar a crise, prometendo a correligionários o que nem sequer sabia se seria possível: um gesto claro de desagravo ao PMDB que partisse da própria Dilma.
Temer também teve de administrar a própria ira e chegou a cogitar processar Ciro Gomes. Conselheiros próximos demoveram o vice da idéia tardia, já que a declaração de Ciro foi há meses. “Só quem tem a ganhar com uma crise na aliança agora é Serra e o PSDB!” – argumentaram insistentemente auxiliares próximos a Temer, enquanto pemedebistas exaltados, ao celular, cobravam reação imediata.
O episódio foi apenas a gota d’água num copo transbordante de insatisfações na aliança. O PMDB se queixa de ter sido isolado da campanha durante o primeiro turno, embora tenha colaborado para cabalar votos para a candidata em todo o país. A escolha de Ciro Gomes para coordenador da campanha de Dilma – uma imposição de Lula – deixou os pemedebistas alarmados e motivou uma conversa tipo olho-no-lho entre Ciro e Moreira Franco, na qual foi travado um pacto de convivência.
Outro momento crítico para Temer foi a suspensão de sua participação no programa eleitoral. O vice, que dedicou o feriado de 12 de outubro às gravações, foi informado por telefone pelo marqueteiro João Santana de que sua aparição no programa de tv de Dilma naquela semana “não era estratégica”. Dilma precisava do espaço para reverter a maré ruim com os evangélicos.
A crise desta segunda-feira foi contida após ampla declaração de Dilma em tom de desagravo ao PMDB e a Temer. A candidata finalmente reconheceu a importância do vice na campanha e reforçou o “orgulho” de tê-lo na chapa. O episódio também provocou a inclusão imediata da gravação de Temer no programa de tv que foi ao ar na noite desta terça.
Por ora, deu certo. Mas o episódio deve funcionar como alerta para os petistas da cúpula da campanha. O PMDB é um gigante poderoso, de difícil controle. É melhor não bancar o David mais de duas vezes por semana.
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